Mali e Burkina Faso, com lideranças militares nascidas de golpes de Estado, advertiram que “qualquer intervenção militar contra o Níger conduziria à retirada do Burkina Faso e do Mali da CEDEAO” EPA
São para já quatro os países europeus que anunciaram planos para a retirada dos seus cidadãos do Níger, uma semana após o golpe de Estado que depôs o presidente Mohamed Bazoum. A decisão de França, Alemanha, Espanha e Itália surge numa altura em que os governos militares dos países vizinhos Mali e Burkina Faso deixam sério aviso contra qualquer intenção de intervenções militares no Níger.Há uma semana, na quarta-feira, 26 de julho, o mundo acordou com as notícias de uma tentativa de golpe no Níger levada a cabo pela guarda presidencial de Mohamed Bazou. Entretanto, o presidente foi detido e colocado sob custódia dos militares enquanto o mundo ocidental e alguns aliados africanos exigiam a sua libertação.
O golpe de Estado foi liderado pelo general Abdourahamane Tchiani, que justificou a ação com a “deterioração da situação de segurança” num país assolado pela violência dos grupos fundamentalistas islâmicos.
Com a situação controlada pelos militares, são agora quatro os países europeus com presença no Níger a traçarem planos para retirar os seus cidadãos do país. França, Alemanha, Espanha e Itália são para já os únicos a definir uma retirada que pode acontecer nas próximas horas.
Paris anunciou através da sua ministra dos Negócios Estrangeiros (MNE) que “a França está a preparar a evacuação dos seus cidadãos e (outros) cidadãos europeus que pretendem abandonar o país”, devendo a operação de saída arrancar já esta terça-feira e sendo aproveitada uma boleia pela Alemanha.
“[A França] ofereceu-se, dentro das suas capacidades, para transportar os cidadãos alemães nos seus voos de repatriação a partir do Níger”, assinalou o MNE alemão, aconselhando os compatriotas a aceitarem a oportunidade.
Na ressaca de ações violentas contra a sua embaixada, o MNE francês tinha anunciado ao início do dia a intenção de retirar os franceses do Níger, abrindo logo a possibilidade de os “cidadãos europeus que desejem deixar o país” poderem juntar-se ao contingente gaulês.
“Dada a situação em Niamey, os atos de violência perpetrados anteontem contra nossa embaixada e o encerramento do espaço aéreo, que deixa os nossos compatriotas impossibilitados de sair pelos seus próprios meios, a França está a preparar a retirada dos seus nacionais e cidadãos europeus que desejem deixar o país. Esta retirada começará hoje”, fez saber Paris.“As medidas sancionatórias, incluindo a intervenção militar, são uma opção que não seria uma solução para o problema atual. Isso causaria um desastre humano cujas consequências poderiam ultrapassar as fronteiras do Níger”, alertou a junta conacri.
Os planos de evacuação terão sido acelerados após as notícias que correram do Mali e do Burkina Faso, de onde chegaram os recados dos regimes militares para que não haja tentação da comunidade internacional de levar a cabo uma intervenção militar para repor a situação no Níger. Qualquer ação militar contra o Níger, avisaram, seria tomada como uma ação de guerra contra o Mali e o Burkina Faso.
Na segunda-feira, numa entrevista, Catherine Colonna, reiterou o apelo para a reintegração do presidente Mohamed Bazoum mas negando qualquer intenção da França de conduzir uma intervenção militar no país depois de a França ter já sido acusada nesse sentido.
Assim, também Itália e Espanha anunciaram a intenção de retirar os seus cidadãos do país. O MNE italiano, Antonio Tajani, falou já num “voo especial para Itália”, enquanto Madrid se escusa a revelar o plano espanhol, temendo uma quebra na segurança da operação.
O número de europeus a viver no Níger é uma incógnita, podendo ser feita apenas uma aproximação a partir de relatórios: cerca de 600 franceses, 70 espanhóis, menos de uma centena de alemães (de acordo com o MNE) excluindo os membros de uma missão militar das Forças Armadas alemãs.
Nações Unidas preocupadas com segurança na região
O moçambicano Leonardo Santos Simão, representante especial do secretário-geral da ONU para a região, sublinhava em comunicado que o golpe no Níger “complicou ainda mais” a situação de segurança na África Ocidental e Sahel.
“A mudança inconstitucional de Governo no Níger complicou ainda mais um cenário de segurança que se agrava”, pode ler-se no documento assinado pelo representante de António Guterres.
Leonardo Santos Simão participou no passado domingo numa reunião onde os líderes da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) deram à junta militar um ultimato de uma semana para um “retorno total à ordem constitucional”.
As Nações Unidas garantem que o representante especial continuará a desenvolver esforços junto de todas as partes para que possa ser restabelecida essa “ordem constitucional” e “consolidar as conquistas democráticas”.
Uma posição de força foi no entanto deixada pelos Estados-membros da CEDEAO, que não descartaram o uso da força, decidindo para já “suspender todas as transações comerciais e financeiras” com o país e congelar os bens dos militares envolvidos no golpe.
Mas a organização não está coesa nesta decisão e a junta militar que governa a Guiné-Conacri alertou entretanto que uma intervenção militar contra o Níger levaria à “rotura de facto” da CEDEAO.
“As medidas sancionatórias, incluindo a intervenção militar, são uma opção que não seria uma solução para o problema atual. Isso causaria um desastre humano cujas consequências poderiam ultrapassar as fronteiras do Níger”, alertou a junta conacri.
O Mali e o Burkina Faso, com lideranças militares nascidas de golpes de Estado, advertiram que “qualquer intervenção militar contra o Níger conduziria à retirada do Burkina Faso e do Mali da CEDEAO bem como à adoção de medidas de autodefesa em apoio às forças armadas e ao povo do Níger”.
Compartilhe:
- Clique para compartilhar no X(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Mastodon(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Reddit(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
Descubra mais sobre Manaustime
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.