Uma multidão de palestinos deslocados para o sul de Gaza começaram a voltar para as suas casas.
Um vídeo publicado nesta sexta-feira (10/10) viralizou nas redes sociais ao registrar o retorno em massa de palestinos ao norte da Faixa de Gaza, após o anúncio do cessar-fogo e retirada parcial das tropas israelenses. As imagens captam famílias caminhando quilômetros entre escombros, carregando o que restou de seus pertences, em direção à Cidade de Gaza, devastada por semanas de ofensiva militar.
O movimento marca o início de uma nova fase no conflito que devastou o território desde outubro de 2023 e provocou uma das maiores crises humanitárias do século.
A retirada israelense foi confirmada pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que aprovou a primeira etapa do acordo de paz com o grupo Hamas. O pacto prevê, dentro de 72 horas, a libertação dos 20 reféns israelenses ainda vivos em poder do grupo e a devolução de 28 corpos. A medida também inclui o compromisso de libertação de prisioneiros palestinos mantidos em cárceres israelenses, em um esforço mediado por autoridades do Egito e dos Estados Unidos.
Nas ruas, a trégua trouxe uma rara sensação de alívio — ainda que misturada à incerteza. Centenas de famílias deixaram as regiões do sul, como Khan Younis e Rafah, e caminham dezenas de quilômetros de volta para o norte, em direção à Cidade de Gaza. Muitas dessas pessoas haviam sido deslocadas à força durante as operações israelenses e agora retornam com o que restou de seus pertences.
“Graças a Deus, minha casa ainda está de pé”, contou o palestino Ismail Zayda, de 40 anos, à agência Reuters, enquanto caminhava entre os escombros. “Mas o lugar está destruído, as casas dos meus vizinhos desapareceram. É como se uma cidade inteira tivesse sido apagada do mapa.”
Retorno em meio à destruição
A cena é marcada por longas fileiras de pessoas caminhando sob o sol, entre ruas cobertas de poeira e destroços. Os que ainda possuem algum dinheiro pagam caro para alugar carroças puxadas por burros ou pequenos caminhões, tentando encurtar o caminho até o norte. No entanto, as forças israelenses alertaram que parte das áreas ainda é considerada “extremamente perigosa”, especialmente regiões próximas a Beit Hanoun e à passagem de Rafah, onde há presença militar remanescente.
Em comunicado oficial, o Exército de Israel informou que as tropas do Comando Sul “continuarão eliminando qualquer ameaça imediata” e estão se “posicionando ao longo das linhas de retirada em preparação para o retorno dos reféns”. O texto reforça que o cessar-fogo é uma medida temporária e que a vigilância militar permanecerá ativa durante a execução do acordo.
Acordo histórico e pressão internacional
O cessar-fogo aprovado por Netanyahu é resultado direto de quatro dias de negociações intensas realizadas no Egito, com mediação norte-americana. Segundo o jornal The Guardian, o plano se baseia em uma proposta de 20 pontos apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que pretende viajar ao Oriente Médio no próximo domingo para acompanhar a implementação do acordo.
O pacto prevê ainda que, após o período inicial de 72 horas, novas etapas de negociação devem ocorrer para discutir uma retirada mais ampla das tropas israelenses e o início de programas de reconstrução em Gaza, devastada por meses de bombardeios.
A comunidade internacional reagiu com cauteloso otimismo. A ONU e a União Europeia emitiram notas pedindo que o cessar-fogo seja respeitado integralmente e que a entrada de ajuda humanitária seja garantida. Já o Egito e o Qatar, mediadores diretos, afirmaram que continuarão atuando para consolidar uma “paz duradoura”.
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