Em uma declaração que mistura pragmatismo popular com uma dose de simplificação perigosa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) propôs uma solução para a alta dos preços dos alimentos que, ao mesmo tempo, revela um diagnóstico superficial e uma desconexão com a realidade econômica da população brasileira. Em entrevista recente, Lula sugeriu que o controle dos preços depende da “conscientização” e “sabedoria” do povo, instando os brasileiros a não comprarem produtos que consideram caros.
Esta orientação, publicada em 06/02/2025, veio acompanhada de uma esperança otimista: “Estou convencido de que a gente vai resolver esse problema logo, logo.” No entanto, a simplicidade da abordagem levanta diversas questões críticas sobre a eficácia e justiça desta “solução”.
Primeiramente, a sugestão de Lula ignora a complexidade do mercado de alimentos, onde a oferta e demanda são determinadas por uma miríade de fatores que vão além da decisão individual do consumidor. A inflação alimentar não é apenas um reflexo de escolhas de compra, mas também de fatores como clima, logística, política agrícola, e especulação financeira. A ideia de que os supermercados seriam forçados a reduzir preços simplesmente porque os consumidores optarem por não comprar produtos caros subestima os mecanismos de mercado e a realidade das margens de lucro das empresas.
Além disso, a proposta de “não comprar” produtos caros é, na prática, inacessível ou irreal para muitos brasileiros. Em um país onde milhões ainda lutam com a pobreza, a noção de escolher ou não escolher o que comprar com base no preço é um privilégio que muitos simplesmente não têm. A inflação afeta desproporcionalmente os mais pobres, que já gastam uma parcela significativa de sua renda apenas com alimentação básica.
A sugestão do governo de “trocar a fruta“, como mencionado pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, em janeiro, é outra faceta dessa estratégia que merece crítica. Substituir a laranja por outra fruta pode não ser uma opção viável para todos, especialmente em regiões onde a diversidade de frutas é limitada ou onde a substituição não é culturalmente aceitável ou nutricionalmente equivalente.
A abordagem de Lula parece mais uma tentativa de desviar a responsabilidade do governo para o cidadão, sem oferecer soluções robustas como investimentos em agricultura, melhoria da logística, ou políticas de controle efetivo da inflação. Enquanto isso, a população é deixada com conselhos que mais parecem piadas em um cenário onde a comida está se tornando um luxo.
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