Os moradores da comunidade Flechal, a cerca de 30 quilômetros de Borba, no Amazonas, vivem momentos de angústia e apreensão. O que antes era uma área de tranquilidade e sustento familiar agora se tornou palco de intensa atividade garimpeira, que vem ameaçando o meio ambiente e a segurança local. Mais de 50 balsas, equipadas com dragas, operam incessantemente no Rio Madeira, revolvendo o leito do rio em busca de ouro e comprometendo a qualidade da água e a saúde da fauna aquática.
A situação, que se arrasta há mais de dois meses, vem gerando medo e revolta entre os moradores. A comunidade Flechal, composta principalmente por ribeirinhos que dependem da pesca e da água do rio para viver, denuncia a contaminação dos peixes e das águas. Sem a intervenção das autoridades, os moradores se sentem desamparados.
“Estamos desesperados, ninguém faz nada. Nossos filhos não podem beber essa água, os peixes estão doentes”, desabafa um morador da comunidade, que pediu para não ser identificado. Em uníssono, os ribeirinhos clamam por socorro urgente, com receio das consequências ambientais e sociais que podem se agravar.
A recente concentração de garimpeiros na área de Borba é resultado de uma migração de cerca de 100 trabalhadores que fugiram de Autazes, município vizinho, após uma operação de combate à extração ilegal de ouro, deflagrada pela Polícia Federal.
Mesmo com a ação das autoridades em Autazes, o grupo rapidamente se reorganizou e retomou suas atividades no Rio Madeira, aproveitando a ausência de fiscalização efetiva na região de Borba. Em um final de semana, as balsas surgiram, atracadas no rio e já prontas para a extração, evidenciando a força do garimpo ilegal na Amazônia.
“Trabalhávamos aqui há três anos e nunca causamos destruição. Isso agora é uma repressão sem motivo”, afirmou o garimpeiro Luiz Henrique Ribeiro, defendendo o garimpo como uma prática com potencial de gerar riqueza. “Eles podem até tentar acabar com o garimpo, mas tem muito ouro aqui”, declarou, em tom de desafio.
Apesar de declarações como essa, os efeitos devastadores do garimpo ilegal na Amazônia são amplamente reconhecidos. A destruição dos leitos dos rios, associada ao uso de mercúrio no processo de extração, contamina as águas, envenena os peixes e afeta diretamente a saúde das comunidades locais, que têm no rio sua principal fonte de alimentação e sustento.
Os moradores da comunidade Flechal, temendo que a situação evolua para um cenário de violência e represálias, fazem referência aos trágicos casos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, mortos em 2022 enquanto investigavam atividades ilegais na Amazônia. “Estamos com medo que algo semelhante possa acontecer aqui”, relatou um morador.
A denúncia da comunidade é um alerta para o que está acontecendo nos arredores de Borba e para a urgência de uma intervenção eficaz das autoridades federais e estaduais na proteção das comunidades amazônicas e dos ecossistemas da região. Enquanto os ribeirinhos aguardam por respostas, a devastação no Rio Madeira continua, trazendo consigo o risco de um desastre ambiental e social de proporções ainda mais graves.
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