15/10/2025
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Crise na Argentina podem afetar exportações no Amazonas

(Márcio Silva/Arquivo AC)

A crise preocupa o estado pelo fato do país vizinho ser o principal destino do polo de duas rodas da Zona Franca de Manaus (ZFM)

A crise econômica na Argentina é monitorada com atenção pelos representantes da indústria e do governo do Amazonas. Isso porque o país vizinho, que vivência a pior crise dos últimos 30 anos, é um dos principais parceiros comerciais do estado, e atualmente, o principal comprador dos produtos produzidos pelo polo de duas rodas da Zona Franca de Manaus (ZFM). 

O governo do Amazonas acompanha atentamente a crise enfrentada pela Argentina. De acordo com nota emitida pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), o assunto vem sendo acompanhado, inclusive junto ao governo federal.

Segundo a Superintendência da ZFM (Suframa), em 2021 e 2022, a Argentina foi o terceiro maior destino das exportações da indústria amazonense. Dados parciais do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), referentes ao período de janeiro a março deste ano, mostram que o país é atualmente o principal destino das exportações do Amazonas, com um valor de US$ 30,82 milhões, ligeiramente acima da Colômbia, o segundo destino, com US$ 29,32 milhões no mesmo período. 

Exportações “De uma forma geral, a Suframa destaca que o crescimento apresentado nas exportações deste ano e que colocam a Argentina até o momento como principal parceiro comercial do Amazonas ratifica não apenas a solidez e a relevância das relações entre o PIM e a Argentina, mas também indica uma tendência de manutenção ou, até mesmo, de incremento nas relações, ainda que a situação econômica circunstancial da Argentina requeira atenção e precise ser monitorada. No entanto, a situação econômica circunstancial na Argentina requer atenção e monitoramento”, informou a autarquia em nota encaminhada à reportagem.

No que diz respeito aos produtos exportados, os dados de janeiro a março mostram que pouco mais de um terço das exportações foram de motocicletas com mais de 125 cilindradas, fabricadas pelas indústrias do subsetor de duas rodas do Polo Industrial de Manaus (PIM). A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) acompanha o cenário recessivo do país ao longo dos últimos anos e, por isso, uma série de medidas preventivas já foram tomadas. 

Como exemplo, a entidade cita a concessão de garantias de crédito, a adequação de volumes para exportação para o país. A Argentina representou 23,8% das exportações da Abraciclo em 2022, o que significa 13,5 mil unidades. “Esta redução já vem ocorrendo e continuamos acompanhado de perto a evolução do mercado local. É importante ressaltar que o Brasil exporta hoje para mais de 40 países, o que inclui Colômbia, Estados Unidos, Austrália, Canadá, México, Uruguai, entre outros. Isso mostra que nossos produtos possuem alto valor agregado e que atendem aos altos níveis de exigência do consumidor desses países”, disse a Abraciclo em resposta ao A CRÍTICA.

Além das motocicletas, outros produtos que se destacaram foram os aparelhos e lâminas de barbear, com 16% das exportações, seguidos por aparelhos de som automotivo, com 12% de participação, e televisores, com 8%. Itens como aparelhos decodificadores de sinal digital, canetas esferográficas, artigos de higiene pessoal e toucador, isqueiros a gás e lápis também tiveram relevância nas exportações para o país vizinho.

‘O Brasil é um parceiro estratégico’

Breno Rodrigo, cientista político e presidente do Diplô Manaus (curso para diplomatas), a situação econômica argentina é resultado de uma crise que iniciou ainda no governo da atual vice-presidente Cristina Kirchner. A eleição do ex-presidente Maurício Macri, com uma proposta de coalizão liberal, não conseguiu realizar reformas importantes para conter a crise econômica e com a ascensão do peronista, Alberto Fernández, enquanto o Brasil era governado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), abriu um abismo na relação entre os países e agravou o isolamento argentino. “O Brasil é um parceiro estratégico para a Argentina. É a nossa maior fronteira econômica. Exportamos muito produtos para a Argentina, mas a Argentina entrou em uma espiral inflacionária sem precedentes e isso dificultou muito a relação com o Brasil, não apenas do ponto de vista econômico, porque a Argentina passou a consumir menos produtos brasileiros por conta da crise econômica, mas também por uma questão política”, explicou Breno.

A eleição de Lula para a Presidência da República e a proximidade com Fernandez deu um alívio ao governo argentino, mas não se traduziu em números, inclusive políticos. Com a aproximação das eleições no país vizinho o deputado Javier Millei, da coalizão La Liberdad Avanza liderando as pesquisas, o atual presidente argentino corre para fechar acordos. “Parece que essa aproximação que o Lula tem feito em relação à Argentina é em relação a esse sentido também, de conter o próximo governo que pode ser de perfil mais conservador, mais liberal, pode assumir uma retórica anti Rússia, anti China e até anti Brasil, leia-se com Lula na presidência, o que pode fortalecer inclusive a oposição no Brasil”, avaliou a cientista político.

Lula manifestou intenção de ajudar

Durante visita do presidente argentino Alberto Fernández ao Brasil, na terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva  (PT) revelou o plano para financiar empresários brasileiros que exportam para a Argentina. Com as baixas reservadas de dólar no país vizinho, os exportadores temem o calote, por isso, pela proposta, o governo brasileiro pagaria os empresários como uma espécie de garantia e o governo argentino quitaria depois a dívida. Há também uma articulação do governo brasileiro de uma ajuda para os argentinos por meio do Brics.Presidente da Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, avalia que naturalmente a situação da Argentina é motivo de preocupação, mas ele vê com receio também as crises nos países vizinhos, principais destinos das exportações locais. “Os efeitos ainda não foram sentidos de imediato, mas é possível que tenhamos reflexos para o segundo semestre”, avalia Antônio Silva. 

Para o presidente da Associação Comercial do Amazonas, Jorge Lima, lembra que além das motocicletas, os descartáveis também têm destaque na exportação para a Argentina. “A preocupação é inevitável para os exportadores, que terão que aguardar medidas internas em andamento no país. O Banco dos BRICS dá sinais que tentará ajudar, mas temos que aguardar os mecanismos a serem sugeridos. A economia está constantemente em movimento ascendente e descendente”, disse.

*Com informações acritica


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