Rede privada virtual é o único meio de burlar a censura imposta pelo ministro
Na tarde desta sexta-feira, 30, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu o Twitter/X do Brasil. A decisão já era esperada pelo próprio dono da plataforma, Elon Musk. Agora, só quem tiver acesso a uma virtual private network (VPN) poderá acessar a rede social.
Mas o que é a VPN? E como utlizá-la?
Conforme explica o colunista Dagomir Marquezi, em reportagem publicada na Edição 201 da Revista Oeste, VPN quer dizer “rede privada virtual”. É virtual porque não exige nenhum tipo de elemento físico, como cabos ou roteadores. É privada porque ninguém mais vê o que o usuário está fazendo. E é network porque o usuário estabelece uma espécie de rede paralela com seu servidor.
Brasileiros terão de usar VPN para acessar o Twitter/X | Foto: Shutterstock
Como funciona a VPN? Para entender, é preciso falar de outra sigla: IP. Que quer dizer internet protocol, ou “protocolo de internet”. É uma espécie de CEP da rede. Você, que está lendo este artigo num computador, tem um IP exclusivo para que esta matéria chegue até você. Como um carteiro que encontra seu endereço para entregar uma encomenda.
Uma pessoa mal-intencionada também vai usar seu IP para roubar seus dados e espioná-lo. A VPN mascara seu endereço. Você não consegue ser localizado. O histórico do que você fez na internet também fica inacessível. Os vilões não sabem o que você está fazendo.
Isso se torna ainda mais importante quando você usa uma rede pública de internet — como em um restaurante ou aeroporto — onde a segurança é precária. Os dados que você transmite — como um e-mail confidencial, sua localização geográfica ou seus dados bancários — são encriptados pela VPN. Ou seja, “embaralhados” como um quebra-cabeça, de forma que só você e o destinatário conseguem ver a imagem real.
As vantagens da VPN
- Deslocalização geográfica
Você já recebeu a mensagem “este conteúdo não pode ser exibido no seu país”? A VPN “engana” essa localização geográfica. O usuário pode entrar na internet através de servidores de dezenas de países. E assim, dependendo do caso, você pode ter acesso a conteúdos que estavam barrados no Brasil. Como assistir ao vivo a programas da TV canadense, ou australiana.
- Rastros apagados
Quando navegamos pela internet, deixamos rastros para os (aí vem mais uma sigla) ISP. Que significa “provedores de serviço da internet”. Esses ISP ficam de olho nos lugares em que você passou — um site de compras, outro de apostas, um de viagens. E, de repente, sem que peça, você está recebendo ofertas de compras, apostas e viagens. Usando a VPN, você esconde seu endereço (ou IP). E se torna menos vulnerável a esses anúncios indesejados.
- Inimiga da censura
Esta é uma das mais importantes utilidades da VPN, agora e no futuro: ela passa por cima de restrições de governos, censuras e esquemas de vigilância. Vamos dizer que alguma autoridade brasileira tenha vetado algum site para os próprios cidadãos do Brasil. Ela não pode barrar esse acesso se você estiver conectado através da Índia, da Nova Zelândia ou da Áustria. A VPN se tornou um instrumento poderoso contra tiranias. Mais sobre isso adiante.
A VPN não faz milagres
Um site da Microsoft mostra que a VPN é poderosa, mas não faz milagres: “Primeiro, ela não protege contra vírus. E, embora uma VPN possa impedir um anunciante de usar seus cookies para direcionar anúncios, ela não impede os próprios cookies. Falhas de segurança, bugs e outras vulnerabilidades podem surgir, o que torna importante manter seu software atualizado. Provedores menos confiáveis podem registrar sua atividade de navegação e usar os dados para vender anúncios. E, embora os melhores provedores ofereçam o mais alto nível de criptografia e mascaramento de IP, provedores de serviços de internet (ISP) e outras entidades terceirizadas estão se tornando mais astutos a cada dia”.
Uma fechadura não garante que sua casa não será invadida. Mas torna a tarefa mais difícil para o assaltante. Uma internet com VPN é bem mais segura do que uma sem VPN. Ela oferece essa possibilidade definida por um termo com o qual teremos que nos acostumar: o “tunelamento”. Ou seja, a capacidade de esconder nossa vida on-line num túnel virtual.
Como escolher um serviço de VPN?
Existem muitas opções. Especialistas não recomendam os serviços gratuitos. Segurança na internet exige seriedade e comprometimento.
A Proton é um dos serviços mais conhecidos de VPN. Ela oferece conexão em servidores de dezenas de países, da África do Sul ao Vietnã. Esse serviço custa R$ 30,99 mensais. Basta baixar o aplicativo no Android e sair usando. O preço inclui a instalação no computador e no celular.
Coloque “VPN” na busca de sua loja Google ou Apple, e vão surgir dezenas de opções de diversas marcas — VPN Turbo, VPN Super, Hideme, Kapersky, Thunder, CyberGhost, NordVPN, TunnelBear, ExpressVPN, IPVanish, Windscribe VPN, AdGuard, Avast, Octohide, SurfShark, e por aí vai. Cada um tem suas características próprias, e seu preço. Mas o princípio de “tunelamento” é o mesmo.
O ditador da Turquia está preocupado
Recentemente o browser Opera (concorrente do Google Chrome, do Microsoft Edge e do Apple Safari, entre outros) lançou sua nova versão já com o botão de VPN. Indicando que com o tempo esse recurso pode fazer parte da vida de todo mundo.
Isso está tirando o sono dos tiranos. Um desses ditadores disfarçados de presidente, Recep Tayyip Erdoğan, está preocupado com as eleições de março deste ano na Turquia. Ele já criou uma dessas leis de “regulação” da internet que bloqueou, só em 2022, 712 mil páginas da internet, 9 mil contas do X/Twitter, 16.585 vídeos do YouTube, 12 mil páginas do Instagram e 11.150 posts do Instagram. (Os dados são da Associação Turca de Liberdade de Expressão, citada pelo site Deutsche Welle.)
A luta pela liberdade está sendo encampada pelo Google, que criou um departamento chamado Jigsaw, especializado em furar os bloqueios das ditaduras. A empresa divulgou o código aberto do seu serviço de VPN, Outline
Recep Erdoğan percebeu que sua tirania estava correndo perigo e resolveu fechar o “túnel” também. Mandou bloquear nada menos que 16 serviços de VPN, sem qualquer fundamento jurídico. A vantagem do povo turco é que eles já aprenderam a lidar com esses golpes à liberdade, segundo declarou uma expert em tecnologia ao Deutsche Welle:
“O constante endurecimento das leis da internet e a proibição de serviços nos últimos anos significam que os cidadãos turcos agora são bons em contorná-las. Assim que uma VPN é bloqueada, eles mudam para uma alternativa. Comparado com muitos outros países, muitas pessoas na Turquia estão muito familiarizadas com VPNs. É um jogo de gato e rato. Nos dias de hoje, até rimos disso.”
A importância de se preparar
Outras ditaduras também estão correndo para tentar desabilitar os serviços de VPN. Os aiatolás miram os usuários, enquanto desligam o serviço de internet quando desejam, como alguém apaga uma luz. O Irã forma com a Turquia, a China e a Rússia o quarteto das ditaduras que mais estão atacando os serviços de VPN. Na Rússia, o bloqueio do Instagram (usado por 80 milhões de usuários) e de praticamente todas as redes sociais levou à corrida por serviços de VPN como ExpressVPN, NordVPN e CyberGhost.
A luta pela liberdade está sendo encampada pelo Google, que criou um departamento chamado Jigsaw, especializado em furar os bloqueios das ditaduras. A empresa divulgou o código aberto do seu serviço de VPN, Outline. Qualquer programa ou browswer pode incorporar o Outline. Quanto mais esses recursos se difundirem, pior para os autocratas.
Essa é uma lição que está se espalhando: não importa quanto as ditaduras queiram regular, controlar, proibir a internet, a tecnologia vai estar sempre à frente para escapar dessas armadilhas.
O atual regime brasileiro é obcecado em controlar as redes sociais e a internet como um todo. Aprender a usar VPN virou uma obrigação de todos os que preservam a liberdade. É preciso aprender, desde já, a se esconder no túnel.
*Fonte revistaoeste
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