Em entrevista ao A CRÍTICA, dirigentes de clubes apresentam comprovantes de pagamentos
Diretor de futebol do São Raimundo, Cícero Júnior apresentou nesta sexta-feira (22), comprovantes de quatro pagamentos feitos para pagar multas impostas ao clube, sendo todos os depositos feitos nas contas pessoais de Edson Rosas Junior e Larissa Ponce Guimarães, presidente e secretária-geral do Tribunal de Justiça Desportiva do Amazonas (TJD-AM), respectivamente. A denúncia ocorre um dia depois do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), afastar provisoriamente os dois de seus respectivos cargos, após uma denúncia feita pela Federação Amazonense de Futebol (FAF).
O documento – mais especificamente uma Representação Ético Disciplinar – assinado pelo Auditor Corregedor Geral do Tribunal Pleno do STJD, Felipe Bevilacqua, informa que a FAF apresentou documentos de “extrema gravidade, além de antiéticos e imorais”, citando também o “recebimento de valores oriundos de condenações suspeitas e em valores vultosos aplicados pelo TJD/AM nas contas pessoais dos representados, através de PIX, conforme farta documentação acostada”.
Das três multas impostas ao São Raimundo, a primeira, no valor de R$10 mil, foi por suposta falta de gandulas em uma partida do Campeonato Amazonense Sub-16. A segunda – na mesma competição -, no valor de R$7,5 mil, foi por atraso de 20 minutos na entrega da pré-súmula, em jogo ocorrido em Manacapuru. Por se tratar de multas aplicadas em torneios de base, o valor caiu pela metade.
A reportagem de A Crítica entrou em contato com representantes de clubes amazonenses para falarem sobre o ocorrido. “O valor das multas é totalmente desproporcional. Tanto que na primeira, pedimos revisão de valores e, na segunda, recorremos e estávamos aguardando o recurso ser julgado. Já havia pegado multas antes, mas nunca havia chegado a cifras tão exorbitantes. Estranhei ter pegado uma multa de R$5 mil (sendo que originalmente seria R$10 mil, mas por ser de base, a pena cai pela metade) e outra de R$7,5 mil (caiu para R$3.750,00), sendo R$500 por minuto de atraso em entregar a pré-escala, que ocorreu por conta de um pneu furado do ônibus na estrada”, detalha Cícero.
Comprovantes de pagamentos feitos por Cícero Júnior, diretor de futebol do São Raimundo, para Larissa Ponce Guimarães, secretária-geral do TJD-AM (Foto: Reprodução)
Para se ter ideia do tamanho da multa, o presidente do Amazonas FC recebeu a mesma multa financeira, de R$5 mil, nesta semana. No entanto, enquanto o São Raimundo foi punido pelo TJD-AM por suposta falta de gandulas em uma partida da base, o STJD puniu o mandatário aurinegro por conta da agressão a um atleta do Paysandu, em jogo válido pela Série C. O diretor de futebol do alviceleste colinense comparou as duas situações.“Quando vi a multa do presidente do Amazonas, por exemplo, me questionei: ‘Se atrasar por conta de um pneu furado na estrada é mais grave que uma agressão’? O Superior cobrou menos na multa do que o Tribunal local. A nossa ‘sorte’ é por ser futebol de base e ficou pela metade do valor original. Sinceramente, o medo de prejudicar o São Raimundo e os atletas da nossa base era maior que o desejo de questionar. Precisava resolver o problema e eu só agia”, declara.
De acordo com a Representação Ético Disciplinar do STJD, é “público e notório que os Tribunais de Justiça Desportiva não possuem Personalidade Jurídica própria, restando as suas Federações a arrecadação e manutenção dos mesmos, não cabendo àqueles qualquer orçamento, muito menos utilização de contas pessoais e conversas informais”. Não à toa, os pagamentos eram anteriormente feitos para a Federação Amazonense de Futebol ou revertidos em cestas básicas, que eram distribuídos para ONGs.
“Achava estranho não ter uma conta de personalidade jurídica para receber os valores, mas também pelo relacionamento cordial, nunca duvidei da idoneidade. Eu nunca me importei em pagar penas nas poucas vezes que errei. Sempre prezei pela justiça e, o que espero agora, é que haja justiça. O mais justo neste momento, ao meu ver, é anular todas as penas de todos os clubes, pois aparentemente o processo foi todo maculado por falta de ética. Idealmente, também, deve-se ressarcir os clubes prejudicados por valores exorbitantes e pelos depósitos em contas pessoais”, pontua Cícero, que finaliza sua fala deixando claro jamais ter sido vítima de chantagem – algo que também foi citado no documento do STJD.“Nunca recebi chantagem. Aliás, sempre tive um relacionamento de cordialidade, sempre fui bem atendido”.
“É melhor dar um soco”
O Tabosão Esporte Clube também entrou em contato com a reportagem e, assim como o São Raimundo, apresentou quatro pagamentos de multas realizadas para as contas de Edson Rosas Júnior e Larissa Ponce Guimarães. O representante dos Touros da Amazônia, que não quis ser identificado, questionou a dosimetria – cálculo feito pelo para definir qual a pena será imposta a uma pessoa em decorrência da prática de um crime – que vem sendo utilizada pelo TJD-AM.“As três comissões do Tribunal precisam descer do pedestal e irem até os clubes de futebol, para entenderem a realidade, porque ninguém ganha dinheiro além dos clubes profissionais nas Séries C e D. A base não ganha um real, tiramos um prato de comida das nossas casas e apenas pagamos os custos da competição, cujo dinheiro vai direto para a Federação. Eles precisam entender que sim, tem que haver punições às irregularidades e abusos dentro de campo, mas a dosimetria das punições tem que ser à altura”, declara o representante do clube.
Este ano, o técnico da equipe sub-20 do Tabosão, André Tabosa, acabou punido pelo TJD-AM com 7 dias de suspensão e R$500 de multa, após publicar em suas redes sociais que “existem árbitros tendenciosos”. Na mesma semana, o treinador acompanhou um jogo de sua equipe em Presidente Figueiredo e o entendimento do Tribunal foi de que ele não poderia estar presente, mesmo que na arquibancada, tendo a pena ampliada para 90 dias e R$2 mil de multa. Assim como Cícero Júnior, o representante do clube também comparou a situação do técnico sub-20 com a do presidente do Amazonas FC. “O presidente do Amazonas deu um soco, quebrou o nariz do jogador e pegou 105 dias e R$5 mil de multa do STJD. Outro dirigente deu um soco no preparador físico, em plena Série C, e pegou 60 dias (de suspensão). Deram a entender que é melhor dar um soco em alguém. Você vê que as penalidades no TJD tem cunho pecuniário toda hora, é para arrecadar dinheiro”, finaliza.
Comprovantes de pagamentos feitos pelo Tabosão Esporte Clube – e por dirigente de outra equipe – diretamente a conta de Edson Rosas Jr. (Foto: Reprodução)
“Indústria para ganhar dinheiro”
Um terceiro clube, cujo representante não quis ser identificado, apresentou o pagamento de uma multa feita diretamente para Edson Rosas Junior. Por ser um clube com histórico pequeno de participações no TJD-AM, o dirigente se limita a questionar para onde é destinado a verba das multas aplicadas
“Eu sempre perguntei pra mim mesmo: ‘Para onde vão os recursos dessas multas aplicadas aos clubes’? Porque muitas das vezes, para os clubes que não tem patrocínio ou que lutam com pouca verba para fazer esporte, fica muito complicado. Eu espero que através dessa denúncia, as medidas cabíveis sejam tomadas e os clubes que sofreram punições ou foram assediados de alguma maneira, possam ter suas penas revisadas ou mesmo ter seus valores estornados, pois realmente virou uma ‘indústria’ para ganhar dinheiro”, declara o terceiro interessado, acreditando em dias melhores para o futebol amazonense de base.“Irei me aprofundar para saber para onde vai o recurso dessas multas aplicadas pelo TJD. Para quem fica, onde é usado e de que forma é utilizado. É essa a transparência que eu, como dirigente de clube, quero ter. Espero que se olhe diferente para a base, pois é absurdo se aplicar multas no valor de R$5 mil, R$8 mil para clubes de base que, muita das vezes, tiram do próprio bolso para fazer esporte. E que a Federação siga ouvindo seus filiados a respeito desse assunto”, finaliza o dirigente.
A reportagem de A Crítica entrou em contato com Edson Rosas Junior para esclarecimentos a respeito do afastamento imposto pelo STJD, com o mesmo informando que neste sábado (23), às 15h, haverá uma coletiva de imprensa sobre o ocorrido, na sede do Tribunal de Justiça Desportiva do Amazonas – localizada no conjunto Vieiralves, bairro Nossa Senhora das Graças.
*Com informações acritica
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