facções querem implantar “IPTU do crime” em outros Estados
O crime organizado do Rio de Janeiro encontrou uma nova e lucrativa forma de atuação: o domínio de condomínios residenciais populares, onde impõe taxas de segurança e ameaça moradores. Segundo investigações recentes da Polícia Civil e do Ministério Público, as principais facções criminosas que atuam no estado querem expandir esse “modelo de negócio” para outros estados brasileiros, transformando áreas urbanas vulneráveis em centros de arrecadação e poder.
O esquema já está consolidado em diversas comunidades da capital fluminense e em municípios da Baixada. Criminosos ocupam condomínios de programas habitacionais, onde, após cooptarem ou expulsarem antigos moradores, passam a cobrar “taxas” mensais, supostamente para garantir a segurança local. Quem se recusa a pagar é alvo de intimidações, agressões e, em casos extremos, expulsão forçada.
“O tráfico deixou de ser apenas varejista de drogas e passou a operar como uma verdadeira empresa de controle territorial, com faturamento fixo e regras rígidas para quem reside nesses espaços”, explica um investigador sob anonimato.
De segurança à administração: um modelo que gera lucro e controle
As facções atuam como se fossem administradoras informais dos condomínios, estabelecendo normas, determinando horários de funcionamento de áreas comuns e escolhendo quem pode ou não ocupar os imóveis. Moradores relatam que, além das taxas mensais — que variam entre R$ 50 e R$ 350 —, são obrigados a seguir uma série de restrições impostas pelos criminosos, sob pena de punições violentas.
“Eles dizem que estão garantindo a segurança, mas, na verdade, quem vive com medo somos nós”, conta uma moradora de um condomínio na Zona Oeste do Rio, que preferiu não se identificar. Ela relata que, nos últimos meses, ao menos cinco famílias foram expulsas do local por se recusarem a pagar as taxas ou por denunciarem o esquema às autoridades.
Facções miram expansão nacional
As autoridades apuraram que líderes do Comando Vermelho (CV) e de outras facções rivais já articulam a expansão desse modelo para cidades de São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Pará e Amazonas, regiões onde há um crescimento acelerado de conjuntos habitacionais populares e onde a presença do Estado é mais frágil.
Para o tráfico, esses condomínios são ambientes perfeitos: muitos moradores, pouco policiamento, estruturas fechadas e, geralmente, comunidades carentes, onde o poder público é ausente. Já existem relatos de tentativas de replicar esse esquema em outras capitais, e o risco de nacionalização desse modelo é real. A lógica da expansão do tráfico ultrapassa o comércio de drogas: envolve agora o controle socioeconômico dos territórios, com foco em rentabilidade e fortalecimento da autoridade paralela.
Operações enfrentam dificuldade
Apesar dos esforços das forças de segurança, o enfrentamento dessa nova vertente do crime organizado esbarra em diversas dificuldades. A primeira delas é a falta de denúncias, já que muitos moradores temem represálias. Além disso, a legislação atual não prevê com clareza como caracterizar e punir a cobrança dessas “taxas de segurança” em comunidades. “É uma prática que se aproxima da extorsão, mas é realizada de forma tão difusa e estruturada que dificulta a responsabilização criminal dos envolvidos”, explica uma advogada criminalista.
Especialistas alertam que, se não houver uma ação coordenada entre o poder público, o Judiciário e a sociedade civil, esse “modelo de negócios” pode se institucionalizar e se transformar em mais uma fonte permanente de renda para o crime organizado brasileir, com o risco de que as populações mais vulneráveis passem a viver sob uma lógica de dupla tributação: pagam impostos ao Estado, mas também taxas ao crime, que dita as regras do território.
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