quinta-feira, 21 de novembro de 2024
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Manaus: Invasão de igarapés causa inundação, doenças e sumiço da fauna

Invasão de igarapés causa inundação, doenças e sumiço da fauna

Inundações, proliferação de doenças e desaparecimento de espécies da fauna são consequências da ocupação irregular de igarapés. Especialistas consultados pelo atual alertam para os perigos da prática comum em Manaus, que vai desde a invasão para construção de casebres, colocação de barracas nas calçadas até uso mais ousado como estacionamento.

Na última quarta-feira (11), após denúncia do ATUAL, a Semmas (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade) emitiu um auto de notificação a um mercadinho na Avenida Marquês de Silveira, no bairro Petrópolis, zona centro-sul.

Trecho da área de proteção permanente à margem do Igarapé de Petrópolis foi desmatado para construção de um estacionamento. No espaço há também uma barraca de capas de celular e material de construção.

Construção irregular funciona como estacionamento em igarapé no bairro Petrópolis (Foto: Murilo Rodrigues/ATUAL)

André Mendonça, professor do Departamento de Ciências Florestais da Faculdade de Ciências Agrárias da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), explica que a vegetação em igarapés protege o equilíbrio do ecossistema como um todo e a ausência ocasiona processos erosivos, que alteram os ciclos naturais que ocorrem naquele local.

“Espera-se desde problemas como acúmulo de sujeira e poluição até o desaparecimento de espécies de fauna – como aves – e ocorrências de deslizamentos e outros problemas de ordem prática. Mas, de forma geral, todos os serviços ecossistêmicos da área ficam prejudicados e o resultado em médio prazo é que a área passa a ser cada vez mais poluída e mais próxima de um lamaçal e depósito de lixo do que de um igarapé”, explica.

Mendonça acrescenta que quem mora perto perde uma opção de recreação, o cheiro torna-se desagradável e os distúrbios causam a presença de bactérias e animais indesejados. “De uma forma geral, perde-se qualidade de vida em um raio de vários quilômetros a partir de um igarapé com as margens desmatadas e, a longo prazo, teremos problemas maiores”.

O ambientalista Carlos Durigan afirma que as áreas ao longo de rios e igarapés, além de enriquecerem o patrimônio natural da cidade, cumprem papel importante no provimento de serviços ecossistêmicos, como a purificação da água, acúmulo de carbono e regulação do clima.

“Por isso essas áreas são classificadas como áreas de proteção permanente (APPs) e são protegidas pela Lei do Código Florestal de 2012. Além disso, sua ocupação desordenada pode trazer inúmeros problemas, como os que testemunhamos em Manaus em relação a alagamentos e poluição”.

Para Durigan, falta agilidade na condução dos processos de ordenamento da ocupação dessas áreas e são muitos os problemas gerados pela ocupação irregular dos igarapés.

“Obras e infraestrutura afetam a drenagem e causam frequentes inundações, e como nossos rios e igarapés urbanos são extremamente poluídos e contaminados, essa situação traz o aumento expressivo de doenças diversas como consequência com o contato e consumo de água contaminada”, alerta.

Cílios das águas

Vegetação nas margens dos igarapés funcionam como cílios protegendo os olhos (Foto: Arlesson Sicsu/Semmas)

Conceição Vargas, engenheira florestal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e mestre em Ciências Florestais e Ambientais, explica que a vegetação nas margens dos igarapés é denominada mata ciliar e o correto seria ficarem conservadas.

“Como se fossem os cílios que protegem os olhos, elas protegeriam os cursos d’água. Mas em se tratando de área urbana, com ocupações irregulares, em grande parte, pouco corpo técnico e fiscal nas instituições para fazer serviço, torna-se quase que comum esse tipo de ocupação”, diz.

A engenheira florestal afirma que o risco para a população é presenciado durante fortes chuvas, quando ocorrem alagamentos e pessoas ficam desabrigadas.

O professor André Mendonça afirma que a comunidade pode ajudar na recuperação dessas áreas com o plantio de árvores. “Ações simples como a fiscalização do lixo no igarapé e a reclamação junto aos responsáveis por obras podem ser bastante efetivas e significarão um lugar mais agradável para todos, especialmente para os que moram mais perto, mas também para todo mundo que mora na cidade, uma vez que os igarapés e rios urbanos são interconectados”, acrescenta.

Conceição Vargas reconhece que não é fácil conscientizar a população para não ocupar igarapés e afirma que precisaria de muito pessoal para fazer o serviço de educação ambiental rigoroso e por fim, de repressão.

“A Prefeitura de Manaus tem equipes de educação ambiental na Semmas, na Semulsp, tem o pessoal da Defesa Civil que dá orientação para as famílias que ocupam esses espaços. Tem também o Estado com os programas tipo o Prosamim+, mas infelizmente ainda não são suficientes”, diz.

Com informações: amazonasatual


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