Evento reuniria diplomatas e pesquisadores para destacar o potencial da bioeconomia amazônica.
Um dos principais projetos de divulgação internacional da sustentabilidade amazônica foi interrompido por causa do preço exorbitante das passagens aéreas no Amazonas. A “Missão Pré-COP30 – Manejo Sustentável do Pirarucu”, que aconteceria no fim de outubro no município de Tefé (a 523 quilômetros de Manaus), foi cancelada após os custos de deslocamento entre Brasília, Manaus e o interior do Amazonas ultrapassarem R$ 8 mil por pessoa.
A iniciativa, organizada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Instituto Mamirauá, tinha como objetivo mostrar ao mundo o modelo brasileiro de manejo comunitário do pirarucu — considerado um exemplo global de equilíbrio entre conservação ambiental e geração de renda para comunidades ribeirinhas da Amazônia.
Pirarucu como símbolo da bioeconomia amazônica
O evento reuniria cerca de 30 participantes, entre diplomatas estrangeiros, pesquisadores e técnicos de ministérios brasileiros. A programação previa visitas de campo na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, área referência em manejo comunitário, onde o pirarucu passou de espécie ameaçada à base de uma cadeia produtiva sustentável e rastreável.
O plano incluía discussões sobre como o manejo controlado transformou a realidade de famílias ribeirinhas, gerando emprego, renda e preservação dos ecossistemas aquáticos do interior do Amazonas. O peixe, que já esteve próximo da extinção, hoje é vendido de forma legal e certificada, movimentando a economia local e sendo reconhecido como símbolo da bioeconomia brasileira.
A missão também seria uma prévia da COP30, conferência do clima das Nações Unidas que ocorrerá em Belém (PA), em 2025. A ideia era apresentar, diretamente do território amazônico, um exemplo concreto de produção sustentável com protagonismo das populações tradicionais.
Passagens de até R$ 8 mil inviabilizaram o deslocamento
O MPA confirmou, em nota, que o cancelamento foi motivado pela alta expressiva no custo das passagens aéreas. O trecho Brasília–Tefé, que custava em média R$ 1.700, passou a superar os R$ 8 mil após o fim do acordo de codeshare entre as companhias Azul e Gol, que reduzia preços e conectava voos regionais.
Além do aumento de tarifas, o tempo de deslocamento entre a capital federal e o município do Médio Solimões chegou a 18 horas, com necessidade de pernoite. Atualmente, a Azul é a única empresa aérea que opera voos para Tefé, e a alternativa por via fluvial leva ao menos 12 horas de barco desde Manaus.
“O aumento expressivo dos custos de deslocamento inviabilizou a realização da missão na data originalmente prevista”, informou o ministério.
A pasta afirmou que o evento foi adiado para 2026, em comum acordo com o Instituto Mamirauá, com o objetivo de “garantir ampla participação de parceiros nacionais e internacionais e evitar que limitações logísticas comprometam o êxito da missão”.
Logística cara e desafios para o acesso à Amazônia
Os desafios logísticos no interior do Amazonas refletem um problema crônico de acessibilidade e conectividade aérea na Amazônia profunda. Os altos custos de passagens e a falta de rotas regulares têm impactado projetos científicos, sociais e até políticas públicas que dependem de deslocamentos rápidos entre cidades amazônicas.
O cancelamento da missão reforça o debate sobre a necessidade de políticas de transporte aéreo regional que garantam mobilidade a custos viáveis — especialmente em regiões estratégicas para o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.
* Com informações da FOLHAPRESS
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