quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
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EUA fora da OMS: entidade pede reconsideração e especialistas alertam para riscos

EUA
Foto reprodução

Organização Mundial da Saúde citou importância de participação do país para proteção da saúde não só de americanos, mas de pessoas ao redor do mundo

Presente nos planos do presidente americano Donald Trump desde seu primeiro mandato, a proposta de retirar os Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi incluída nas ordens executivas assinadas pelo republicano nesta segunda-feira, 20, assim que ele assumiu o cargo. Nesta terça-feira, 21, a entidade se manifestou lamentando a decisão e fez um pedido para que o país reconsidere a medida “em benefício da saúde e do bem-estar de milhões de pessoas ao redor do mundo”. Para especialistas ouvidos por VEJA, além das questões de financiamento, a saída pode impactar a saúde global e aumentar vulnerabilidades sanitárias em meio à circulação de antigos e novos patógenos, inclusive com potencial pandêmico.

Em nota compartilhada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a entidade afirmou que os Estados Unidos atuaram como membro fundador da instituição em 1948 e, desde então, tiveram participação em ações para combater ameaças à saúde ao lado de outros 193 Estados-membros.

“Esperamos que os Estados Unidos reconsiderem e estamos ansiosos para nos envolver em um diálogo construtivo para manter a parceria entre os EUA e a OMS, em benefício da saúde e do bem-estar de milhões de pessoas ao redor do mundo”, diz trecho da nota.

No comunicado, a OMS enumerou sua atuação para proteger a saúde da população ao redor do mundo “abordando as causas básicas das doenças, construindo sistemas de saúde mais fortes e detectando, prevenindo e respondendo a emergências de saúde, incluindo surtos de doenças, muitas vezes em lugares perigosos onde outras pessoas não podem ir.”

Impactos para a saúde

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri classificou a decisão como “lamentável” e relembrou que a OMS é uma ação global de promoção à saúde.

“Uma das lições que a gente aprendeu com a pandemia é que ninguém está seguro em um mundo globalizado em que epidemias acontecem, como ebola, mpox e covid, com potencial até pandêmico, e o mundo fica sob risco de doenças que não são controladas em uma determinada região”, diz Kfouri. “Uma das principais vocações da OMS é olhar para o todo, proteger os menos favorecidos e fazer vigilância dos surtos”, completa o médico pediatra e infectologista, recém-nomeado como membro do Grupo Consultivo Estratégico sobre Doenças Preveníveis por Vacinas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

O financiamento também é um ponto sensível na avaliação de especialistas ouvidos pela reportagem. Sem contar as taxas de associação, os Estados Unidos figuram como o principal financiador da entidade, com doações que correspondem a 20% do orçamento de 6,8 bilhões de dólares.

“Retirar (esse valor) vai afetar todos os trabalhos e iniciativas que a agência internacional faz, inclusive com problemas globais como tuberculose, malária, recente epidemia de mpox. Imagina se tiver uma nova pandemia. Como a OMS vai conseguir lidar com isso com um orçamento tão reduzido? Lembrando que o segundo maior contribuinte é a Alemanha, que contribui com três porcento do orçamento”, alerta Natalia Pasternak, professora na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC).

A saída pode ainda reduzir o potencial tanto da OMS quanto de agências de saúde americanas de rastrear e vigiar potenciais riscos à saúde, a exemplo da circulação de patógenos.

“Os Estados Unidos vão deixar de ter uma troca de informações oficiais, perdendo acesso ao monitoramento que a OMS faz de novas ameaças, avaliação de novos medicamentos e vacinas, vigilância dos países. O CDC, que é a principal agência dos Estados Unidos, pode acabar ficando no escuro em relação a essa rede de informação, o que pode ser péssimo para a saúde pública do país”, explica Natalia.


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